quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CAÇADA NO PARAGUAY - Cap. II











            Após a primeira aventura do Eric e Princesinha, naqueles banhados repletos de cobras, mas também de muitas codornas e perdizes, o negócio foi planejar de maneira mais moderna e organizada a  Segunda Caçada...
E para isso, Eric criou coragem e teve uma conversinha ao pé do ouvido com seu pai, para que as coisas se esclarecem e de maneira mais , digamos assim, segura e mais “moderna”.
Tudo bem que Dom Emilio “El Matador” tivesse suas traquitanas de recarregar cartuchos usados para as próximas caçadas.
Uma maquineta de extrair as espoletas detonadas dos cartuchos, outra para recolocar novas, uma balancinha de ourives para pesar a pólvora preta que ele comprava em latas, oríundas da Europa, e também pesar a quantidade de chumbinhos, tipo 6 e 8, para esse tipo de caçada à perdizes.
Ele tinha também um fazador para cortar buchas de papelão do diâmetro certo dos cartuchos calibre 12...da sua arma.
E uma outra para “finalizar” o cartucho fazendo uma dobra perfeita na ponta dele, após ser carregado com pólvora, buchas, chumbos e mais buchas!
Mas por mais que o “velho” caçador insistisse nessa antiga técnica, Eric, tentou mostrar à seu pai que a tecnologia de munições havia evoluído e muito, pós segunda guerra mundial, e lá na cidadezinha do Paraguay, chamada Puerto Presidente Stroesnner, do outro lado da Ponte da Amizade em Foz do Iguaçú,  haviam botecos de madeira, repletos de munições da marca Remington, por um décimo do prêço dos cartuchos da CBC brasileira, e pela metade do prêço de seu trabalho de recarga de cartuchos usados e velhos, sujeitos à darem Shabús, na hora mas  importante.
Foi a primeira vitória do Eric, no planejamento da sua Segunda Grande Caçada de Perdizes “ en el chaco “ paraguayo/boliviano.
Não sem antes, seu pai os três companheiros de caça, terem levantado a hipótese de chegarem,  lá na fronteira e não haver cartuchos nos estoques dos botequins.
Fácil de resolver o impasse...
Foram à Loja Az de Espadas de Curitiba e compraram, caixas e mais caixas de cartuchos novinhos da CBC...para municiar as espingardas calibre 12 deles.
Entre outras traquitanas de caçadas, que Eric, achou que não se prestariam à nada.
Bem que Eric sentiu uma pontinha de ciúmes deles, pois sua espíngarda continuava a mesma, uma calibre 16 espanhola,  que entendam é de cano mais fino que a doze, e menor capacidade para alojar cartuchos de potências maiores.
Contou com a sorte, de encontrar lá nos botequins do Paraguay, cartuchos Remimgton, como da vez anterior...
Quanto aos cães Pointer, os mesmos deles e a minha mesma Princesinha...da primeira caçada, mas agora já mais madura e experiente nos campos de caça.
Numa de nossas reuniões de planejamento, levantou-se a hipótese da minha Princesinha entrar no Cio, durante a caçada, o que seria um desastre, pois os canalhas dos cães machos deles, nem iriam quererem saber de correr pelos campos atrás de  perdizes, e só quererem , os tarados, ficarem “pegando” de jeito a Princesinha...putz
Menti, menti e menti, que Princesinha já acabara de sair do Cio...até prá tranquilizá-los.
Mas fiquei bem receado com essa hipótese de vir a acontecer, justo durante o início da caçada.
Mas antecipando à vocês, dei a maior sorte, e minha cadelinha também, pois só entrou no cio após a volta da Grande Segunda Caçada...eh eh eh
Haviam outras coisas relevantes à se discutirem, e uma delas, era a de que a Kombi verde do ano passado foi detonada, naquelas trilhas do Paraguay...
Até aí , tudo bem, compramos uma zerinho 1968, e também verdinha, é claro, e a equipamos com um Kit alemão de motor 2000, que os competidores europeus usavam em corridas  de fuscas, até para melhorar o desempenho da Kombi nas estradas e nas picadas lamascentas e recobertas de gêlo , resultantes das inevitáveis geadas de inverno.
À pedido do Eric, a Servopa, revendedora Volkswagem de Curitiba, encomendou uma Kombi com três freios de mão...
Explico...o central, trava duas rodas motrizes trazeiras simultanêamente, mas os outros ao lado dele, cada um se encarregava de uma só roda...e voilá, com isso descobriram, os caçadores de campo, uma nova modalidade, manual é claro, de contrôle de tração em trilhas cheias de barro...
Se uma roda disparasse no barro, bastava travá-la com o sistema manual e toda a tração do motor e transmissão seria deslocada à outra em condições melhores...
Coisas de caçadores antigos gente,  pois hoje isso é feito eletrônicamente com alta tecnologia de informática embutida nos nossos atuais automóvéis...
Equipamos a Kombi com dois jogos de pneus, um liso e cinturado da Pirelli para o asfalto e outro tipo lameirão para jeeps,  da Goodyear...
Bem, Kombi resolvida, agora faltava o planejamento de sustentabilidade dos caçadores e cães na aventura de mais de 20 dias, num inverno rigoroso e no meio do mato, campos e banhados, sem nenhum recursso à menos de 300 km do acampamento...
Aí falou a voz da experiência gente,pois  Eric não conhecia bem o caminho das pedras...
É que seu pai e o outro companheiro mais velho, tinham um acerto com o dono de um frigorífico de porcos, amigo deles e também caçador de perdizes!
Funcionava assim, eram daquelas latas de 20 Kg antigas com tampas redondas no topo.
Dentro delas, banha de porco da melhor qualidade, e entre a banha, linguiças, costeletas, carrés, e outras partes de suínos da melhor qualidade, e tudo lacrado com solda de estanho na tampa, para se manter estável por mais de três meses, resumindo, uma latona de conservas...putz...
Mas para que serviria isso, se iríamos caçarmos e carne fresca não iria faltar?
Nova explicação, gente, e mais uma vez a sabedoria dos caçadores antigos...
Claro que não havia sistema de refrigeração para conservação da caça, e o mesmo latão de banha que servia de provimento alimentar aos caçadores, retornavam também lacrados com solda de estanho...repletos de peitos de perdizes refogados.
Mas vale a penas falar, também  da excitação das esposas de caçadores, pré saída à temporada.
Sabedoras das “coisas”, elas já começavam a prepararem seus vidros de conservas, com aquela tampas, borrachas cor alaranjadas e aqueles arames de fixação das tampas.
O processo de conservas de peitos de perdizes, até que era bem simples...mas bem produzido.
Elas retiravam os peitos das perdizes, préviamente fritos de dentro dos latões de banha, retiravam os ossos e os temperavam com azeite de oliva, e azeitonas importadas de Portugal...caracas, até salivei agora, só de lembrar...
Cada uma delas, tinha seu segredinho de tempêros personalizados.
Os vidros contendo os peitos de perdizes desossados , eram fervidos em banho maria num caldeirão raso e fechados  com as tampas e isolamentos de borracha, antes de esfriarem, dessa forma, mantendo o nível de oxigênio bem baixo.
Tempo de validade da conserva :  uma temporada de caça!
Peito de Perdiz à escabeche, putz...hoje valeriam 500 reais à refeição, e por pessoa,  num restaurante de luxo atual, em qualquer lugar do mundo capitalista globalizado!
Mas para que isso funcionasse certinho, os “velhos PV”, levaram um caldeirão de ciganos ,de cobre, e um caldeirão para ferver água...para depenar às caças do dia.
Seguinte, após a caçada do dia, depenávamos as perdizes, extraíamos os peitos daquelas gordas frangonas, e os fritávamos  dentro do caldeirão com a banha das latas.
Aí era só devolver às latas os peitos suculentos dourados e completarmos ela com a banha quente, e claro, soldarmos as tampas com um ferro aquecido no brazeiro e estanho.
Pronto, lá estava a conserva, sem necessitar de nenhum ingrediente químico para conservá-la por um  ano.
Tudo de maneira natural.
 Após esse trabalho super aromático, começávamos  a preparar o cardápio dos cães Pointer, polenta de milho amarelo, tipo azteca, com recheio do resto das perdizes...e que não eram poucos, coxas, sobre coxas, e costados...
Os bichinhos até ganiam de ansiedade e prazer, esperando pela recompensa de suas árduas caçadas do dia.
No Capítulo III, descreverei o performance dos nossos maravilhosos e fantásticos cães Pointer , e companheiros de caça...